segunda-feira, 16 de maio de 2011

Como fica a Dior sem Galliano agora?



























































































Rosângela Espinossi

A direção do grupo LVHM Moët Hennessy Louis Vuitton, proprietária da grife, agiu rápido, para que a imagem da grife não fosse afetada. A imagem moral e - não nos esqueçamos -, a imagem comercial. Afinal, mesmo fazendo parte de um conglomerado tão grande como é a LVHM, dona também das marcas que a batizam, além de Givenchy, Emilio Pucci, Fendi, Marc Jacobs, entre tantas outras, uma atitude como a de Galliano tem reflexos comerciais estrondosos, principalmente na coluna dorsal de qualquer empresa: o lado financeiro.

Imagine a grife Dior associada a posições racistas e antissemitas, mesmo negadas agora pelo estilista, apesar de gravadas em vídeo? Um rombo na credibilidade. A garota-propaganda dos perfumes, a atriz judia Natalie Portman, ganhadora do Oscar no último domingo, divulgou uma nota que parecia um ultimato, dizendo que não queria associar seu nome ao do Galliano e que ficou enojada com o comportamento do diretor criativo da marca.

Rehab
Os amigos próximos a Galliano já estão agindo. A crítica de moda inglesa Suzy Menkes, postou em sua coluna no New York Times, desta quarta-feira (2) que Galliano deixou a França, convencido por amigos, como Naomi Campbell e Kate Moss, para se internar numa clínica de reabilitação nos Estados Unidos, talvez a mesma pela qual tenham passado Elton John e Donatella Versace. Caminho natural de quem se mete em escândalos e precisa de um tempo afastado do mundo.

Ele, com certeza, estava visivelmente bêbado no vídeo postado pelo jornal "The Sun", em que dizia "Eu amo Hitler", e também no episódio em que xingou um casal, sendo a mulher judia. A "rehab" talvez seja uma saída honrosa.

Não dá é para entrar no mérito das posições morais de cada um. Chanel, durante a Segunda Guerra, fechou sua Maison e, em seu retorno, em meados dos anos 50, foi também acusada de nazista, porque teria tido um romance com um oficial alemão.

É óbvio que uma figura pública, que representa uma grife como Dior - não sendo o dono da empresa e de seu próprio nariz -, não pode ser considerada pessoa física, mas jurídica, por isso é impossível sair falando o que pensa. Agora, com seu pedido de desculpas, ele tenta desdizer o que está gravado. Não dá para saber o que vai acontecer daqui para frente. Mesmo desculpando-se, com essa ferida aberta na consciência da humanidade que foi o Holocausto, é difícil sair-se bem. Se o álcool ou qualquer outra substância que tenha ingerido fez com que Galliano dissesse o que disse, em voz alta e em público, o já estrago está feito. E ele está pagando as consequências.

Estrago
O estrago, porém, é ainda maior para o mundo da moda. Depois de Alexander McQueen ter posto fim à própria vida, mais um vazio começa a tomar conta dessa indústria. Indústria em que os negócios são a espinha dorsal, mas a criatividade é a alma. A saída de Galliano da Semana de Moda de Paris é mais um golpe fatal nas apresentações-shows e teatrais das grandes marcas. É um golpe fatal no espírito criativo e inovador que move a moda. Menos um desfile espetacular, mais uma apresentação correta. Ricardo Tisci, da Givenchy, e Alber Elbaz, atualmente na Lanvin (que não é da LVHM), estão entre os nomes cotados, segundo a imprensa internacional. Eles já estão aí no mercado e são estupendos.

Mas fazer o que Galliano fez nesses 15 anos de Dior, vai ser difícil. Só mesmo o próprio Christian Dior, que em 1947 lançou a linha "corola", conhecida mundialmente por New Look Dior, com suas saias amplíssimas e dorso estruturado, contrariando a tendência seca que a guerra impusera; ou Yves Saint-Laurent, que substituiu o próprio Dior após sua morte em 1957, e, em 1958, lançou o vestido trapézio. Dior precisa de outro Dior, de outro Saint-Laurent, de outro Galliano. E a moda também.

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